Terça, 11 de novembro de 2025

Vale do Lítio: impactos da extração em comunidades de Minas Gerais

Vale do Lítio: impactos da extração em comunidades de Minas Gerais
© Gil Leonardi/Agência Minas

No coração do Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, uma transformação se passa quase despercebida por quem transita pela BR-367, entre os municípios de Araçuaí e Itinga. É lá que funciona a planta de lavra de lítio, em atividade por empresas internacionais. Contudo, a comunidade rural Piauí Poço Dantas percebe a situação de maneira distinta: com a chegada de diversos problemas, como poeira, barulho e rejeitos gerados pela atividade.

“O excesso de poeira e o barulho constante nos afetam muito. A vegetação está sendo destruída e as pilhas de rejeito geram desconforto. Nosso córrego está sendo assoreado devido a esses resíduos. Esses problemas têm se intensificado muito”, relata Ana Cláudia Gomes de Souza, pedagoga e moradora da localidade.

O lítio é um metal alcalino e raro que possui aplicações em diversos segmentos, incluindo metalurgia e produção de baterias de íon-lítio, especialmente relevante na transição energética e na geração de energia eólica.

Desde que nasceu na região, Ana Cláudia nota que a presença de mineradoras sempre foi um fator comum. No entanto, os efeitos mais adversos começaram a se manifestar com maior intensidade a partir de 2023, época que coincide com o incremento das exportações do mineral e a intensificação das pesquisas de extração por empresas multinacionais, como a canadense Sigma Lithium, que se instalou em Itinga.

Mineral Crítico

O lítio, considerado um mineral crítico por sua importância em setores estratégicos e risco de escassez, está associado a diversos outros metais, como cobalto e níquel. Com um alto potencial eletroquímico, o metal é de interesse crescente para as empresas. A instalação da mina Grota do Cirilo-Xuxa está a poucos metros da comunidade mencionada. O crescimento da produção de lítio no Brasil não se reflete em benefícios diretos para a população local, apesar do aumento significativo na arrecadação financeira.

Impactos Sociais e Ambientais

Uakyrê Pankararu-Pataxó, uma indígena da Terra Indígena Cinta Vermelha, expressa sua preocupação quanto aos problemas respiratórios que atingem a região, atribuídos à poeira e à operação das mineradoras. Ela relata que a presença de trabalhadores de empresas fora da região requer atenção especial e gera tensões na comunidade.

“A identidade da comunidade está sendo invisibilizada por essas empresas que tentam desacreditar nossa presença aqui”, critica Uakyrê.

Enquanto o governo de Minas Gerais implementa o programa Vale do Lítio, promovendo investimentos e criação de empregos, a insegurança e a degradação ambiental continuam a preocupar a população local. A falta de diálogo e consulta às comunidades é uma constante nas reclamações, levando o Ministério Público Federal a recomendar a revisão das licenças de exploração na região.

Conclusão

A situação das comunidades impactadas pela exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha levanta questões sobre a responsabilidade social e ambiental das atividades mineradoras. A luta por direitos e reconhecimento continua, enquanto a extração desses recursos críticos avança, muitas vezes em detrimento da saúde e bem-estar dos moradores locais.

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